Cá estamos nós!

Cá estamos nós!




Neste dia, o Pedro Tomaz contou-nos muitas histórias para todas as turmas da escola, em jeito de comemoração do 14º aniversário da nossa biblioteca escolar. Foi uma alegria pegada.


   


























































Hans Christian Andersen escreveu 

 apenas viver não é suficiente. (…) É preciso ter sol, liberdade e uma pequena flor.” 

Na história do nosso país, existe uma flor que, a 25 de abril de 1974, se tornou um símbolo da liberdade de todos os Portugueses. 

Como era viver em Portugal antes do dia 25 de abril de 1974?

Manuel António Pina: Costumo chamar a Portugal antes desse dia o País das pessoas tristes. As pessoas não podiam fazer o que queriam ou dizer o que pensavam ou sentiam, nem sequer podiam visitar outros países e conhecer outros povos. Viviam fechadas no seu país como se ele fosse uma prisão.

José Jorge Letria: Os únicos que saíam do país eram os que iam para a guerra ou os que conseguiram fugir para não ter de combater nela. Nessa altura, milhares de jovens portugueses foram obrigados a combater na Guerra Colonial, em África. É quase certo que algum homem da tua família esteve nessa guerra. Talvez um tio ou, quem sabe, o teu avô.

Manuel António Pina: Imagina como seria não poderes fazer o que querias, não poder ouvir as músicas nem ler os livros e as revistas de que gostavas — apenas poder ler e ouvir o que não era proibido. Nem sequer podias beber Coca-Cola, porque também era proibida! As raparigas e os rapazes não podiam conversar nem conviver uns com os outros e tinham de andar em escolas separadas e brincar em recreios separados por muros e por grades.

 Quem decidia o que era proibido e como?

José Jorge Letria: Quem governava o país nessa altura era um homem chamado António de Oliveira Salazar, que esteve no poder durante mais de 40 anos. Era um homem de poucas falas, muito desconfiado e solitário. Praticamente não confiava em ninguém. Tomava as decisões sozinho e ai de quem o tentasse contrariar! Foi ele quem instaurou o chamado regime do Estado Novo em Portugal.

Valdemar Cruz: Para controlar se as pessoas obedeciam às ordens do regime, havia uma polícia que vigiava os movimentos e as opiniões de todos – a Polícia Internacional de Defesa do Estado, ou PIDE. Pensa numa coisa de que tenhas muito medo. A PIDE era isso. Era a noite e o medo da noite.

José Jorge Letria: Para além disso, não existiam eleições livres. As pessoas que ocupavam cargos como Presidente da Câmara ou deputado eram escolhidas com base na confiança que o regime depositava nelas. Até mesmo o Presidente da República era escolhido por Salazar. Era como se ele fosse o menino rico da rua, que é dono da bola, do campo de futebol, das chuteiras e dos equipamentos e que, na hora de preparar o jogo, escolhe a equipa toda, decide quem joga e quem não joga, quem é expulso e quem permanece em jogo. Até escolhia o resultado, mesmo antes de o jogo começar! A isto chama-se ditadura.

 Qual é a diferença entre a ditadura e a democracia, o regime em que vivemos atualmente?

Alice Vieira: Para além de as pessoas não poderem eleger quem queriam, na ditadura existia uma coisa chamada censura. Todos os dias eram presos estudantes pois faziam greve e manifestações para mostrar o seu descontentamento e isso era considerado ilegal. A polícia prendia-os e agredia-os e, no dia seguinte, nos jornais, a censura não deixava que fosse publicada nem uma palavra sobre o assunto. Nem na televisão, evidentemente. Parecia um filme de ficção científica, sabes? Vivíamos coisas que para as outras pessoas não existiam.

José Jorge Letria: Pelo contrário, quando vivemos em democracia as diferenças de opinião são aceites e as pessoas são livres de votar em quem quiserem. Até ao 25 de abril de 1974, não havia democracia e, portanto, não havia nenhuma das liberdades que fazem parte dela – a liberdade de opinião, de expressão do pensamento e de associação. Por causa disso, quem tomasse posição publicamente sobre o regime ou sobre a guerra, era preso e maltratado.

Sérgio Godinho: Vários músicos, como eu, foram presos ou tiveram de fugir do país durante a ditadura, por cantarem sobre a liberdade e o sonho da democracia. Numa das minhas canções há uma frase conhecida que diz que a democracia é o pior de todos os sistemas, com exceção de todos os outros. Isso quer dizer que não é um sistema perfeito, mas continua a ser o melhor que temos.

O que aconteceu no dia 25 de abril de 1974?

Zeca Afonso: Esse dia começou com música. Primeiro, a canção E depois do Adeus, de Paulo Carvalho, ecoou na rádio. Depois, a minha canção, Grândola, Vila Morena. Possivelmente já a ouviste, mas, na altura, era uma canção proibida. Como era também proibido qualquer tipo de ajuntamento e, sobretudo, de protesto, os soldados — que vieram a ficar conhecidos como Capitães de Abril — utilizaram estas duas canções como sinal para darem início ao golpe de Estado que derrubaria a ditadura.

 Manuel António Pina: Quando as tropas começaram a tomar os quartéis e foi possível começar a sentir os ventos da mudança, toda a gente saiu alvoroçadamente para a rua e acompanhou os soldados cantando e gritando: «Viva a liberdade!». As janelas encheram-se de bandeiras e de cravos vermelhos. Por todo o lado, pessoas marchavam pelas ruas com cravos vermelhos ao peito e os soldados puseram-nos nas suas espingards.

Matilde Rosa Araújo: É por isso que a Revolução de 25 de abril de 1974 ficou também conhecida como a Revolução dos Cravos. Na rua, mães choravam enquanto seguravam os filhos, pois haviam entendido a alegria única das flores no peito de toda gente. Limpando as lágrimas, continuavam a caminhada pelas ruas húmidas de alegria, como rios livres a correrem para o mar.

 Como foi acordar nesse primeiro dia em que os portugueses conheceram, finalmente, a liberdade?

Sophia de Mello Breyner: Escrevi um poema sobre isso em que se pode ler: «Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo». Esse dia foi como um novo começo, «como tempo novo / sem mancha nem vício», como escrevi num outro poema, intitulado Revolução.

Manuel António Pina: A liberdade é como o ar que respiramos: só quando nos falta e sufocamos cheios de aflição é que descobrimos que, sem ele, não podemos viver. Nesse dia, os portugueses puderam respirar de alívio pela primeira vez.

 Porque é tão importante que o dia 25 de abril seja feriado nacional e que continuemos a contar a sua história?

Alice Vieira: O tempo separa muito as pessoas, e a memória vai-se gastando também. Temos de contar esta história muitas vezes, para as pessoas não esquecerem, para estarem sempre atentas e não deixarem que coisas destas voltem a acontecer.

José Jorge Letria: Quando terminou a ditadura, acabou também o silêncio que nos obrigavam a manter sobre ela. E essa foi uma das grandes vitórias do 25 de abril. Dias como este só se mantêm vivos se nos lembrarmos do seu significado e lhe dermos sentido nas nossas vidas. O 25 de abril é sinónimo de liberdade, mas a liberdade, como as plantas e as flores, acaba por murchar se não a regares com frequência.

Entrevista ficcionada, inspirada nos poemas de Sophia de Mello Breyner, nas canções de Sérgio Godinho e Zeca Afonso e nos seguintes livros:

 

RESULTADOS CONCURSO LEITURA EXPRESSIVA 1.º CICLO

PARABÉNS A TODOS OS PARTICIPANTES!


3º lugar

2º lugar



 1º lugar