Cá estamos nós!

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A GRUTA DOS VALORES (Texto completo)



A Gruta dos Valores




Capítulo I


- Papá, papá! – corre na direção do pai. É ainda bebé com apenas ano e meio.
Sempre que o pai regressa do trabalho, o Pedro fica eufórico. Os seus olhos castanhos brilham e os caracóis escuros saltam. O pai pega-lhe ao colo e dá-lhe miminhos. Ele é o seu herói. À tarde, o pai leva-o ao parque para ele correr atrás dos pombos. À noite, conta-lhe histórias antes do pequenote adormecer. Pedro tem uma estante cheia de livros. Uns clássicos e outros mais excêntricos sobre fadas, astronautas e dinossauros transparentes que vivem nas cidades sem que os humanos os vejam.

Ouve-se o toque da escola, o Pedro, entra na sala. É o seu primeiro dia de aulas. Estava desejoso de aprender a ler para ser ele a ler as histórias ao pai.
Um dia, depois de brincar no parque e tomar banho, o pai ofereceu-lhe um livro enorme. O maior de todos. Ele adorou a capa, porque brilhava.
- Eu fui à escola, mas ainda não sei ler. O que diz aqui? – apontava para o título.
O pai riu-se um pouco e disse-lhe com carinho: - “A Gruta dos Valores”.
Pedro abriu o livro, só que ficou desapontado. A primeira página estava completamente vazia. A segunda também. Nenhuma tinha desenhos ou palavras.
- Por que é que me deste um livro vazio?
- Amor, para sermos nós a escrevê-lo! – Hoje começo eu a história. Amanhã és tu que me ajudas. Está bem assim? Pedro disse-lhe que sim com a cabeça.
O pai, contou-lhe a história de uma mulher imortal chamada Valor.

“Valor era uma mulher que vivia numa gruta ao pé de um lago. Ela era imortal. Tinha um sonho: ensinar todos os seres do planeta a entenderem-se e a serem felizes.
Um dia, um bom e jovem camponês passou junto de um lago e viu-a a falar com os peixes. Eles responderam-lhe. O jovem pensou que tinha apanhado muito sol na cabeça. Aproximou-se e ela falou-lhe. O jovem sentiu a sua calma e bondade, e percebeu que Valor tinha algo de mágico. Todos os dias à mesma hora eles encontravam-se junto ao lago. E, apaixonaram-se.
Passado algum tempo, na gruta onde viviam, Valor deu à luz o primeiro filho. Pôs-lhe o nome de Amor. Explicou ao marido que o filho era feito só de Amor e quando crescesse iria viajar pelo mundo para ensinar todos a amar. Depois nasceu uma filha. Valor chamou-lhe Generosidade. E disse ao seu companheiro:
 - A nossa filha vai fazer com que todos aprendam a ser generosos.
Mais tarde, nasceram o Respeito, a Tolerância, a Simplicidade, o Carinho, a Verdade, a Honestidade, a Coragem, a Calma, o Afeto, a Compreensão, a Paciência, a Cidadania, a Justiça, a Igualdade, a Lealdade, a Gentileza, … foram tantos e todos importantes. Por último a Amizade.
E, desde essa altura que os Valores – filhos da Valor e do camponês – andam pela Terra a ensinar todas as pessoas, animais e plantas a darem-se bem e a serem felizes, para que o sonho da Valor se torne realidade”.


                                                       Capítulo II


            De vez em quando, o pai e o Pedro inventavam mais uma aventura para cada um dos Valores. Entretanto, Pedro tinha nove anos e já tinha dezenas de histórias.

            Depois de dar muitas voltas ao parque na sua bicicleta, o Pedro foi beber água ao bebedouro. Um cão cheirou-lhe os sapatos. Uma menina segurava a trela. Ele achou-a linda. Tinha um ar selvagem, sério e triste.
            - O meu cão não gosta de ninguém, mas gostou de ti.
            - Eu gosto de cães. Como se chama? – perguntou Pedro, fazendo-lhe uma festa.
            - Pulgas.
            O Pedro riu-se.
            – Não, a sério. Como se chama o teu cão?
            - Pulgas…
            Sorriram os dois.
            - E, tu, como te chamas?
            - Pulgas! – Respondeu o Pedro.
            Ela não queria rir, mas riu-se.
            - Eu sou a Inês.
            - Eu sou o Pedro.
            - O meu pai já me contou a história de Pedro e Inês. Mas acaba mal. É uma história de amor, mas muito triste.
            - E tu porque estás triste?
            - Como é que sabes?
            - Não sei. Mas pareces triste. Estás triste?
            Depois de tantos meses sem querer falar com outras crianças apeteceu-lhe desabafar com aquele rapaz de sorriso muito simpático.
            - A minha mãe estava doente e morreu.
            Entretanto, o pai da Inês, que estava um pouco longe, chamou-a.
            - Tenho que me ir embora.
            - Não és daqui?
            - Não. Mudei-me para cá há pouco tempo.
            - Vais voltar ao parque?
            - Talvez. Queres que volte?
            - Sim, volta!
            Nessa noite o Pedro pediu ao pai para desenhar no seu livro uma menina de pele morena, olhos azuis, cabelo alourado, chamada Inês que conhecera no parque.








           
                                                          Capítulo III


            A meio da manhã, durante a aula de Matemática, entrou uma rapariga na sala, acompanhada pela Coordenadora da escola, que a apresentou à turma. Aquela rapariga era a nova aluna que a sua Professora Mónica já lhes tinha falado. Ela chamava-se Inês. Não era uma Inês qualquer. Era a sua Inês. A que ele conhecera no parque há uns dias…
            A Professora tinha-os preparado.
            - A Inês está com alguns problemas e todos devem ser amáveis com ela.
            O Rodrigo pôs-se de pé, levantou o dedo, esticou-se tanto que até lhe saltou um botão da camisa e viu-se o umbigo. Todos riram. A professora acalmou-os.
            - O que foi, senhor Rodrigo?
            - O que é “amável”?
            A professora sugeriu que pesquisassem o significado da palavra no dicionário online e que trouxessem, no dia seguinte, uma frase com a palavra “amável”.


A Inês nunca queria estar com ninguém. E, o Pedro andava sempre a jogar à bola. Ele tinha vergonha de ir falar com a menina durante o recreio.
A professora lembrou-se de criar “A tarde Especial”. Todas as sextas-feiras, depois do almoço, um menino ou menina trazia algo especial para partilhar com todos, mas especialmente com a Inês. Um trouxe um bolo. A Inês provou e gostou. Outra criança fez um vídeo do seu gato. A Inês, que adorava animais, sorriu e bateu palmas. O Carlos fez um poema sobre o futebol, não rimava, mas a professora elogiou-o. A Francisca fez um desenho com todos os alunos da turma.
O Pedro queria muito ter uma ideia especial. E, no dia a seguir era a sua vez. Só que ele não sabia fazer bolos e não tinha gatos.
À noite, ao arrumar a mochila lembrou-se! Ia levar o livro da Gruta dos Valores. Até se esqueceu que tinha no livro o desenho que o pai fizera da Inês com a data do dia em que se conheceram e como fora esse encontro.
No dia seguinte, na sala de aula, o Pedro explicou à turma como ele e o pai ao longo do tempo tinham escrito e desenhado aquele livro – A Gruta dos Valores – e que é era forma do pai lhe ensinar a ser uma boa pessoa, um bom cidadão.
A professora Mónica ficou comovida. A história era linda e chamava à atenção sobre a importância dos Valores. No fim, todos quiseram espreitar o livro. Um de cada vez, para não o estragarem. Chegou a vez da Inês. Só nessa altura é que ele se lembrou do desenho. Será que ela iria reparar? Ela virou as páginas lentamente. E, parou na “sua” página. Olhou para ele e sorriu suavemente. Ele corou.
No recreio, Inês foi ter com o Pedro, que tinha o leite numa mão e o pão na outra, e disse-lhe baixinho ao ouvido: “- Obrigada!”
A partir daí, o Pedro, às vezes, jogava à bola. Outras vezes, andava à volta da escola a conversar com a Inês. Passados poucos dias já não era só o Pedro, mas também o David, o Leonardo, e depois a Marta, o Alexandre e o Afonso, até a Ana e a Carolina…
Inês passou a sentir-se um pouco melhor com as novas amizades. Pensava que a mãe iria ficar satisfeita, se fosse viva, por ela ter colegas tão simpáticos e amáveis.



                                             Capítulo IV


Uma manhã, no início da aula de Português, a Inês pediu à professora para haver mais “Tardes Especiais”. Agora, era a vez da Inês fazer surpresas. Uma tarde levou um bolo de chocolate. Outro dia, apresentou um vídeo do seu cão. Também desenhou a turma a brincar no recreio. Ela retribuía os mimos que recebia de todos.
O Pedro estava ansioso pela sua vez. Era tudo por ordem alfabética e “P” é uma letra mais perto do fim… Mas, não houve “P”, a professora saltou logo para o “R” de Rodrigo, para o “S” de Susana e no fim para o “T” do Tiago. A Inês tinha combinado com a professora deixar o “P” de Pedro para o fim.
Pediu ajuda à turma. Cada um fez um texto ilustrado sobre um ou mais Valores. Ofereceram-nos ao Pedro para que ele os guardasse na sua “Gruta dos Valores”.
A história da Inês era sobre o dia em que se tinham conhecido. Ela escreveu que desde que a mãe morrera, o Pedro fora a primeira criança com quem ela tinha conseguido falar. O desenho era a Inês com o Pedro, e de mão dada, no meio deles estava o Pulgas. Desenhou ainda um daqueles balões de B.D. que dizia: “Obrigada!” e também um grande chi-coração. Inês escolheu dois valores: o Amor e a Amizade.

Já em casa de Pedro.
- Papá! - e correu na direção do pai.
Eufórico, Pedro deu-lhe uma pasta cheia de folhinhas escritas à mão. O pai não estava a perceber nada. Então o Pedro contou-lhe tudo o que acontecera nos últimos tempos.
O pai deu-lhe um grande abraço e uma pequena lágrima de contentamento escorregou-lhe pelo rosto.







História elaborada pelos alunos da turma 6ºE:

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